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Corrida no Ar

Fartlek? Intervalado? Entenda palavras comuns no mundo da corrida

Sérgio Rocha

11/12/2018 04h00

Crédito: iStock

No último texto, expliquei o significado de palavras que fazem parte do vocabulário de corredores mais experientes, como cadência, pacer, drop, cotovelo. Hoje, vou esclarecer mais algumas:

Fartlek 

Tipo de treino criado pelo treinador sueco Gustaf "Gösta" Richard Mikael Holmér –ou simplesmente Gosta Holmer –, nos anos 1930. Foi uma forma que ele criou para variar o treinamento dos seus atletas de cross-country. Objetivo era desenvolver a resistência e velocidade dos suecos nesse tipo de competição, em que há grande variação de ritmo, para tentar acabar com a supremacia dos Flying Finns, os finlandeses que dominavam as corridas da época — como o mito Pavo Nurmi.

Farlek em sueco significa "brincar de correr" e uma sessão do treino se caracteriza pela abordagem desestruturada das distâncias ou tempo dos estímulos e velocidade aplicadas. Pode ser algo como correr em ritmo tranquilo por 3 km e então correr 2 km em velocidade moderada, 1 km em ritmo forte para depois correr mais 3 km leves. Ou então usar a paisagem como referência: correr de forma moderada e, então, usar uma árvore como referência e correr forte até ela,  para depois voltar a correr em velocidade moderada. Há também quem use os postes de iluminação, outros atletas, cestos de lixo, minutos ou o que mais você imaginar como referência. O que importa é ser muito rigoroso e com variação de velocidade. Esse método se mostrou eficaz e é amplamente usado por treinadores até hoje.

Frequencímetro 

É o nome dado a relógios com monitores de frequência cardíaca. Em princípio, os frequencímetros foram criados para acompanhar pessoas que tiveram algum problema cardíaco, como infarto. O uso nos esportes foi um passo natural e os relógios com cinta de frequência cardíaca se popularizam a tal ponto que, nos ano 1990, a Polar –marca pioneira na fabricação de frequencímetros — virou sinônimo de relógio de corredor. O benefício de treinar monitorando os batimentos cardíacos é variado e muitos treinadores usam as faixas cardíacas para determinar o ritmo de corrida dos seus atletas. Hoje em dia, as cintas estão dando lugar para os leitores de led diretamente no pulso, mesmo que haja certa controvérsia em relação à eficiência dos leitores em temperatura mais baixas.

GPS

Se nos anos 1990 a Polar era sinônimo de relógio de corredor, esse lugar agora pertence à Garmin. Assim como a Polar foi a pioneira nos frequencímetros, a Garmin foi a pioneira dos relógios com GPS. Esses relógios vêm com chips receptores de sinal de GPS interno e marcam distância percorrida, ritmo (velocidade) e mais uma porção de coisas. É uma mão na roda, porque antes do surgimento desses relógios a gente marcava o percurso com carro, bicicleta (e eu tenho uns amigos loucos aqui em Jundiaí que usaram uma vez fita métrica para marcar um percurso de 1.278 metros) e era difícil saber as parciais por km, por exemplo.

Uma coisa muito boa do surgimento do GPS de pulso é que ficou mais difícil para os organizadores darem aquele "chapéu" no percurso e deixá-lo mais curto para o pessoal bater recorde pessoal. Agora, quando a prova é mais curta, a gente vê no GPS e pode cobrar dos organizadores. Hoje há várias marcas de GPS de pulso disputando uma fatia do mercado criado pela Garmin, como a TomTom, a própria Polar, a Soleus, a Timex, a Suunto etc.

Uma coisa importante de se falar é que os relógios com GPS não são 100% precisos –e a marcação de quilômetros varia muito de modelo para modelo. Lembre-se que a margem de erro do GPS é acumulativa para mais. Então, quando o GPS marca que você fez um treino de 8 km, saiba que a distância real e o ritmo que você correu pode não ser exatamente essa, pois geralmente há uma variação de até 10%.  Quem corre maratonas sabe muito bem como é isso, e se a pessoa se basear apenas na marcação do GPS dificilmente vai fazer o tempo que almeja por causa dessa diferença. Portanto, ao correr provas, tente perceber a diferença entre as placas de marcação da prova e o seu GPS, para ajustar o seu ritmo e não ficar decepcionado(a) na linha de chegada.

Intervalado 

Apesar de muita gente achar que o tal do HIIT (High Intensity Interval Training) seja uma novidade, saiba que o treinador alemão Wondemar Gerschler criou o método em 1932. Treinamento que tem formato que conhecemos hoje devido aos ajustes que o fisiologista alemão Hebert Reidell fez, em 1952. O treinamento intervalado se caracteriza por uma série de estímulos que podem ser em distância ou tempo alternados com pausas para recuperação, que podem ser ativas (andando ou trotando) ou passivas (ficar parado). Um exemplo de treino intervalado é dar 10 tiros de 400 metros com pausa de 45 segundos entre eles. O treino intervalado sempre deve ser precedido de um trote de pelo menos 15 minutos, o famoso aquecimento.

Ir pra morte ou valendo a alma

Esse é a expressão que usamos quando queremos dar 100% na prova, ou seja, chegar sem sobrar nada, morrendo –nessa prova eu vou para a morte. Em Curitiba, o pessoal fala "valendo a alma". Como você fala aí na sua cidade ou região?

Sobre o autor

Sérgio Rocha começou a correr para perder peso há 20 anos e nunca mais parou. Nesse caminho, já completou muitas maratonaS, meias-maratonas e incontáveis provas de 10 km. Como profissão, era diretor de arte, mas sempre escrevia um texto aqui e outro ali nas revistas em que trabalhou. Em 2013, criou o canal no YouTube “Corrida no Ar”, que é hoje um dos maiores do segmento. Sérgio também apresenta o programa “Corre 89”, na Rádio Rock de São Paulo, junto do radialista PH Dragani. O programa vai ao ar todos os domingos, às 20h.

Sobre o blog

Este é um espaço para falar sobre o esporte de forma geral, dando dicas, cobrindo provas, escrevendo análises de produtos do mundo esportivo e, por vezes, também fazendo questionamentos que vão ajudá-los a olhar a corrida sob uma nova perspectiva.

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