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Corrida no Ar

O que eu devo comer para correr?

Sérgio Rocha

10/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Muita gente me pergunta o que eu como para correr ou pede para que eu dê dicas de alimentação para a corrida.

Na verdade, não posso dar dicas de nutrição para corredores. Se eu fizer isso, o Conselho Regional ou Federal de Nutrição vai me processar por exercício ilegal de profissão. Então, se você esperava dicas de nutrição, me desculpe. Mas o que eu realmente posso fazer é contar a minha experiência pessoal com a alimentação.

Como jornalista, sou curioso por natureza. E não só jornalistas, mas todas as pessoas curiosas por natureza gostam de ler sobre assuntos que as interessa.

Há muito tempo, mas exatamente em 2011, li um livro chamado The Big Book of Endurance and Racing –ou "O Livrão de Resistência e Competição", em tradução livre — de um autor chamado Philip Maffetone. Ele é médico e treinador e tem uma abordagem bem interessante sobre treinamento baseado em frequência cardíaca. Há um capítulo nesse livro que falava para reduzir o consumo de carboidrato porque isso iria melhorar a performance esportiva.

Ele dizia, a grosso modo, que sempre que consumimos carboidratos o nosso corpo produz insulina, e o papel da insulina é meio que gerenciar o que o organismo deve fazer com esse carboidrato. Funciona mais ou menos assim:  você consome o carbo e o pâncreas produz a insulina; então, ela pensa "Hum… Essa parte eu vou usar para energia e essa outra parte eu armazeno em forma de gordura".

Mas ele diz lá no livro que conforme os anosa avançam, todas as pessoas passam a ter uma certa resistência a essa insulina que é produzida –até porque ela é um hormônio, e qualquer hormônio que fica sendo produzido em excesso acaba uma hora ou outra causando algum problema.

E essa resistência, de acordo com Maffetone, varia de pessoa para pessoa. Em algumas é uma pequena resistência e para outras, ela é enorme.

Então, ele propõe que se consuma o mínimo possível de carboidratos e, dessa forma, o corpo passaria a usar a gordura como principal fonte de energia. Olha, o estoque que a gente tem de gordura, mesmo em alguém magro, é muito, mas muito maior que o de glicogênio muscular (o carbo armazenado nos músculos).

Bom, eu achei essa história meio esquisita, mas fui me convencendo aos poucos, adotando isso devagarzinho e o que aconteceu?

Comecei a emagrecer –foram 10 kg no total — e passei a correr muito melhor. Tá, admito que perder peso ajuda na performance, mas  já tive esse peso e não corria tão bem. Bati todos os meus recordes pessoais depois de alguns meses adotando essa abordagem. Fui considerado maluco por muitos, mas pouco depois mais gente começou a falar nisso — dieta Paleolítica, Low Carb Hi Fat etc.

O legal é que agora estou vendo vários, vários mesmo, nutricionista adotando essa abordagem –até porque, pelo o que entendi, não existe nenhum nutriente essencial para a gente que venha exclusivamente de fontes de carboidratos.

Mas eu não me rotulo um seguidor da dieta paleolítica, low carb ou cetogênica, pois não gosto de radicalizações nem de ser rotulado. Mas diria que o que eu faço é um mistura de todas elas (se é que isso é possível).

Pô, Sergio, você vai ou não falar o que você come pra correr?

Bom, não como nada antes de correr –sempre corro em jejum e faço isso há bastante tempo. E, cá entre nós, conheço alguns atletas de elite que fazem isso e vários outros conhecidos.

Correr em jejum é uma questão de costume mesmo e para quem não usa o carboidrato como base da alimentação, isso é bastante natural.

Agora se usa o carboidrato como base da sua alimentação, você certamente vai ter tontura, sentir fraqueza e tudo isso que falam de quem pratica exercício em jejum –que você vai desmaiar, coisa e tal.

Eu como mesmo depois de correr e, em geral, nem faço isso imediatamente, espero ficar com fome.

Que alimentos fazem parte do meu prato? Muita salada, queijos, salames, presunto parma, tudo quanto é tipo de carne, manteiga, abacate, amêndoas e ovos.

Eu evito ao máximo o açúcar, qualquer alimento que tenha farinha de trigo (mesmo que seja integral) e a maioria dos grãos.

Tá, de vez em quando, como uma tapioca, um pãozinho de queijo e não abro mão da cerveja, mesmo tendo glúten e carboidratos. Às vezes me dou o luxo de comer um chocolatinho com menos de 70% de cacau –ah, também sou filho de Deus — e bem raramente –não conte pra ninguém — até tomo refrigerante.

Não uso nenhum suplemento –acredito que alimentação é tudo. Para não falar que não consumo suplemento, até uso gel de carboidrato nos treinos mais longos que 20 km, pois ele vai ser usado como energia durante o exercício e não tem aquele diálogo de armazenar em forma de gordura.

Bom, é isso. Se você se interessou na abordagem eu recomendo seriamente que você leia mais a respeito, não se deixe levar apenas pela minha experiência pessoal porque o que funcionou para mim pode não funcionar para você.

O que interessa para mim é fazer com que você questione tudo o que a gente foi levado a acreditar –de que temos que seguir aquela pirâmide alimentar convencional. Eu a uso praticamente de cabeça pra baixo.

Eu recomendo a leitura de aluns livros como Barriga de Trigo, de Willian Davis; Gordura sem Medo, de Nina Teicholz; Por que Engordamos e o que Fazer Para Evitar, de Gary Taubes; A Dieta da Mente, de David Perlmutter; e o brasileiro O Nutricionista Clandestino, de Danilo Balu.

Outra base excelente de leitura é o Blog Ciência Low Carb, do Dr. Souto. Ele é a maior referência sobre dieta paleolítica e low carb no Brasil. No blog dele também há uma série de profissionais, entre eles nutricionistas, que trabalham com essa abordagem.

Bom apetite e bons treinos!

Sobre o autor

Sérgio Rocha começou a correr para perder peso há 20 anos e nunca mais parou. Nesse caminho, já completou muitas maratonaS, meias-maratonas e incontáveis provas de 10 km. Como profissão, era diretor de arte, mas sempre escrevia um texto aqui e outro ali nas revistas em que trabalhou. Em 2013, criou o canal no YouTube “Corrida no Ar”, que é hoje um dos maiores do segmento. Sérgio também apresenta o programa “Corre 89”, na Rádio Rock de São Paulo, junto do radialista PH Dragani. O programa vai ao ar todos os domingos, às 20h.

Sobre o blog

Este é um espaço para falar sobre o esporte de forma geral, dando dicas, cobrindo provas, escrevendo análises de produtos do mundo esportivo e, por vezes, também fazendo questionamentos que vão ajudá-los a olhar a corrida sob uma nova perspectiva.

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