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Por que muitas corridas não fazem a medição oficial do percurso?

Sérgio Rocha

05/02/2018 04h01

Crédito: iStock

É muito comum ver o pessoal completando provas, como 10 km, 21 km, e postando fotos dos relógios em mídias sociais e dai a gente vê que tem algo errado.

  • Provas de 10 km com GPS marcando 9.8 km
  • Provas de 21 km marcarndo 20.9 km

E me parece que isso tem sido mais comum do que deveria.

Existe um procedimento padrão para a medição de percursos, usado aqui no Brasil e no exterior: a aferição do percurso feita por um medidor oficial da Confederação Brasileira de Atletismo, a CBAt. Ela é a única garantia que nós, corredores, temos, de que vamos correr a distäncia anunciada pela organização. E também única maneira que a organização tem se assegurar oficialmente de que está entregando a distância correta

Mas daí você diz: "Ah, mas isso só importa para quem é elite, para as provas em que tem disputa de verdade, com premiação."

Ok, você tem um ponto – mas vamos a outro:

Digamos que vc gosta de correr provas de 10 km. Você vai lá e corre várias provas de 10 km por ano. Todo mundo que corre a mesma distância gosta de comparar os seus próprios resultados. Se nenhuma dessas provas tiver aferição oficial, vc, na verdade, não consegue comparar os resultados – pois uma pode ter 9,8 km, outra 9.9 km, 9.6, 10,4 e assim por diante.

Agora pense no tempo final. Se as provas não são medidas oficialmente, seu resultado final pode variar não por causa da sua performance, mas por causa da distancia irregular – 51, 52, 49, 47 minutos e aí vai.

Como saber se a distância estava correta quando você bateu o seu recorde pessoal?

A única forma de sabermos se a prova tem realmente 10 km exatos, é conferir se ela teve medição oficial por um aferidor de percursos da Federação local.

Daí você pensa: "Mas provas no interior do estado não tem grana pra aferir um percurso oficialmente. Isso é uma fortuna!"

Você sabe quanto custa aferir uma prova com um medidor oficial?

Vou falar quanto custa o trabalho de um medidor tipo "B" (o valor é tabelado pela CBAt – Conferedação Brasileira de Atletismo)

  • Provas de até 10 km: R$ 600
  • Meia-Maratona: R$ 1 mil
  • Maratona: R$ 1.5000

Esse é o custo apenas do medidor. Também é necessário pagar a diária de um árbitro da federação de atletismo local, que vai supervisionar o trabalho, mas isso, em geral, fica na casa de, no máximo, uns R$ 200.

Agora vamos a outro ponto. Uma prova simples, com kit simples, com poucas taxas, ou incentivo da prefeitura, custa, por baixo, R$ 150 mil para ser realizada. Quando a prova tem kits mais recheados, mais corredores, mais estrutura, esse valor pode subir para R$ 400 mil ou mais.

Portanto é só fazer uma conta simples. A aferição de um percurso custa menos de 1% do custo total de realização de uma prova.

Ao meu ver, não há desculpa para um organizador de prova não ter o seu percurso aferido e entregar o que é certo para os corredores. E veja bem, é uma garantia pra ele mesmo. Não aferir um percurso é um tiro no pé.

E tem mais: uma aferição oficial é válida por cinco anos. Em outras palavras, é um investimento absolutamente irrisório e que ainda pode ser diluído em cinco anos.

Para mim é incrível ver que circuito de provas super bem estruturados e organizados como da Track and Field (que inclui até meia-maratona) e o conhecido Circuito das Estações não tenham aferição em absotuamente nenhuma das etapas. Não dá para entender!

Se você quiser saber se as provas que você correu são aferidas, vc pode checar aqui nesse link que fica no site da CBAt.

Quer saber como um percurso é aferido? Tem um video que fiz para o meu canal, o Corrida no Ar, em que mostro como esse procedimento é feito.

Sempre quando se inscrever em uma prova, procure saber se a prova é aferida oficialmente. Se não for, converse com a organização e exija o que é certo – o direito de correr uma distância certificada e a certeza de que quando você bater seu recorde pessoal você poderá comemorar de verdade!

Sobre o autor

Sérgio Rocha começou a correr para perder peso há 20 anos e nunca mais parou. Nesse caminho, já completou muitas maratonaS, meias-maratonas e incontáveis provas de 10 km. Como profissão, era diretor de arte, mas sempre escrevia um texto aqui e outro ali nas revistas em que trabalhou. Em 2013, criou o canal no YouTube “Corrida no Ar”, que é hoje um dos maiores do segmento. Sérgio também apresenta o programa “Corre 89”, na Rádio Rock de São Paulo, junto do radialista PH Dragani. O programa vai ao ar todos os domingos, às 20h.

Sobre o blog

Este é um espaço para falar sobre o esporte de forma geral, dando dicas, cobrindo provas, escrevendo análises de produtos do mundo esportivo e, por vezes, também fazendo questionamentos que vão ajudá-los a olhar a corrida sob uma nova perspectiva.

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